domingo, 25 de abril de 2010

as cinzas de madeira e os minerais das rochas

Sobre absorção de minerais e o uso de cinzas de madeiras na horta.

Ás vezes observava minha avó aplicando cinzas do fogão a lenha, achava engraçado aquela nuvenzinha que se formava e deixava tudo com pó de gaveta de fogão.

- Perguntava me por que ela se dava ao trabalho de polvilhar cinzas e com isto deixar toda empoeirada a horta?

-Também meu avo tinha uma égua e duas vacas e freqüentemente adicionava no cocho dos animais um punhado de cinzas misturado com milho, principalmente quando a pelagem dos animais estava opaca, dizia ele que um pouquinho de cinzas principalmente de vassoura e angico era saudável.

Mais tarde quando fiquei mais taludo passou a ser minha tarefa virar os canteiros com pá, capinar de enchada e adubar as plantações e a horta. Por instrução levava os dizeres dos mais velhos sem contestar e mesmo com perguntas diretas a questão das cinzas nas plantas só era respondida com o argumento simples “é bom!”.

Observava nas primeiras horas da manhã, com o orvalho molhando a barra da saia, lá se ia minha avó á espalhar cinzas na horta. Algumas vezes era aplicado mais cinza nos pés de tomateiros, outras nas couves e até mesmo na rúculas , após uma chuva forte a intensidade da aplicação redobrava, chegando a faltar cinzas.

Assim durante as nossas refeições as saladas e temperos sempre foram fartos, brilhantes e suculentos.

Quando passei a freqüentar a escola técnica de agricultura perguntei ao mestre da cadeira de adubações sobre as cinzas de madeiras e como resposta obtive um semblante de desdém, como se meu atrevimento em trazer a sua aula tema tão insignificante fosse uma perda de tempo. Descobri que as cinzas de madeira são irrelevantes nos processos agrícolas industriais da lavoura e da pecuária. E que como nutriente era pouco eficaz nas exigências nutricionais das culturas hibridizadas e “melhoradas”, plantas condicionadas a absorver grandes quantidades de sais solúveis. Mas se nas aulas de agricultura esta resposta não era satisfatória, nas aulas de biologia tinha minhas dúvidas sanadas, sem comprometimentos ideológicos com a industria de sais para adubação o professor de biologia nos estimulava a pensar nas plantas e animais como parte de um todo chamado vida! E que os minerais fazem parte de grandes ciclos, e que as cinzas de plantas e ossos de animais fazem parte deste ciclo.

-Interessante! Uma ampla abordagem para algo simples e cotidiano, como plantar, tratar e colher hortaliças.

-Como poderia entender de uma maneira eficaz o cotidiano de um agricultor e ainda assim a fotossíntese e ou mesmo o ciclo do enxofre, do nitrogênio, fósforo, potássio ou mesmo das terras raras?

-Ora! segui aplicando nas minhas plantações, cinzas de madeiras, e a tratar meus animais com preparados minerais onde as cinzas de plantas como umbu, maricá e fumo bravo passaram a integrar composições complexas mas efetivas na prevenção de doenças dos animais.

Quando entrei na Agronomia achei que minhas dúvidas seriam respondidas,

-Pura ingenuidade! Quando procurei os professores especialistas encontrei maior desprezo sobre estas questões, tratadas como alternativas, portanto indignas de estudo...

Na agronomia predomina uma visão ideológica ditada por processos analíticos baseados em uma química do século XIX , a qual foi sustentada politicamente como programa de Estado para manter a industria de guerra. Desta forma apesar de as cinzas de madeiras terem análises amplas e disseminadas como informação o processo de assimilação dos elementos minerais, os processos de nutrição natural, tem sido pouco difundidos.

Nas aulas ouvi sempre como resposta que plantas não tem condição de absorver elementos minerais do solo, exceto que estejam estes de forma solúvel.

Mas de uma maneira diferente da visão agronômica encontramos na geologia outro tipo de pensamento a respeito das cinzas, nesta ciência as cinzas são consideradas elementos minerais e assim podem ser prospectadas pelas raízes e acumuladas pelas plantas na busca das soluções nutritivas, as raízes estão em constante processo de interação com o

meio químico definido pelo solo, rocha e água subterrânea.

Por outro lado, mecanismos complexos, intrínsecos à planta, levam os elementos para os

diferentes tecidos vegetais, onde, por vezes, podem nuclear ou cristalizar na forma de diversas espécies químicas. Microcristais de ouro nativo (1x 0,5), aderidos à superfície de células de Tsuga mertensiana, foram identificados por MEV (Dunn 1995). Da mesma forma, cristais de cinábrio foram detectados por MET em briófitas aquáticas (Satake et al. 1990). Neste estudo, análises por MEV revelaram a presença de acúmulos de metais nobres como Au, Ag, Pt, além de microcristalóides de Ni, Fe, Cr, Zn e Ca em tecidos lenhosos das espécies Adiantopsis cf. chlorophylla, Scoparia montevidensis e Scutia buxifolia. A forma e disposição de alguns destes precipitados por vezes sugerem artefatos originados pela preparação das amostras.

No entanto, conforme observa-se na figura , a deformação causada pela inclusão da partícula de Au na parede celular denota que a deposição se deu in situ.


Figura - Em A (A’) - Ni (+S) no parênquima do cilindro central da raiz de Scoparia montevidensis.1000x. Em B (B’) - Caule de

Scutia buxifolia com precipitados de Au (Al+Fe) no parênquima do cilindro central.1000x.


Krämer et al. (1997), por meio de análise de Micro-PIXE, percebem ser os tricomas das folhas o

sitio preferencial de acúmulo de Ni em Alyssum lesbiacum, espécie comum em terrenos ultramáficos serpentinizados ricos em Ni. Seus estudos mostram notável similaridade com os resultados obtidos em duas outras espécies acumuladoras, nas quais o Ni se encontrava concentrado em tecidos periféricos das folhas. Microanálises (EDAX) igualmente comprovam a deposição de Zn na epiderme das folhas de Thlaspi caerulescens, espécie acumuladora de Zn. Estas constatações levam Krämer et al. (op.cit.) a deduzir que o acúmulo de metais em estruturas epidérmicas da folhas pode ser uma feição comum às plantas acumuladoras de metais.

Outros autores também relatam a presença de precipitados minerais em tecidos foliares, tais

como Satake (2000) que constata a presença de cristalitos de Fe na parede celular de musgos aquáticos; Motomura et al.(2000) observam a presença de sílica amorfa hidratada, absorvida como ácido silícico, em celulas foliares epidérmicas, e Psaras ET al. (2000) encontram concentrações de Ni em células fisiologicamente inertes da epiderme foliar.

Neste trabalho as análises por MEV foram realizadas somente em tecidos lenhosos, não sendo

portanto possível concordar ou não com a afirmativade Kramer et al.(op.cit.). Entretanto, observou-seque a maior parte dos semicristais imageados localiza-se no parênquima do xilema, principal tecido condutor de água e solutos, sugerindo que os elementos absorvidos pelas plantas têm mobilidade no interior do mesmo. O fato de sua deposição, como aglomerados amorfos ou semicristais, ocorrer em tecido parenquimático, sugere absorção excessiva, levando os sais a precipitar como produto excedente em células cuja função vital seria ligada em parte à

armazenagem de substâncias de reserva e, em parte, à condução horizontal.

Kovalesvkii e Kovalevskaya (2000) encontraram em tecidos suberizados de espécies vegetais

formas minerais por eles definidas como marcassita, pirita, calcopirita, arsenopirita, galena, esfalerita e cinábrio, além de elementos nativos como Fe, Cu, Au, Hg, Ag, Pt, Pd, Ir, Os, Rh e Ru. Para esses autores, o fato de a maioria dos agregados acumular-se em tecidos suberizados demonstra que a planta tem a capacidade, por mecanismos de exclusão, de secretar o excesso dos elementos químicos da seiva e dos tecidos ativos para tecidos “mortos”, na forma de partículas minerais -biólitos.

Pelo exposto conclui-se que o princípio que rege o mecanismo de exclusão quando da absorção

dos elementos, do meio externo para a raiz do vegetal, em plantas metalófitas ou acumuladoras, atua também no meio interno da planta, ou seja, determinadas funções fisiológicas destas espécies excluem dos centros ativos do metabolismo os elementos indesejados ou absorvidos em excesso, acumulando os em tecidos, celulas e estruturas subcelulares, gerando os biólitos. Estudos recentes (Clemens ET al.2002) demonstram que o tráfego dos elementos metálicos ocorre dentro de cada celula do vegetal, sendo as concentrações mantidas de acordo com as especificidades fisiológicas em cada organela e a liberação do elemento feita conforme a exigência das moléculas quelantes. Não se descarta também a possibilidade de que os elementos absorvidos, seja por processos bióticos ou abióticos, fiquem estocados na forma de precipitados, em períodos de relativa inércia fisiológica do vegetal, conforme Kovalevskii (2000).

Estudos biogeoquímicos focando a variação dos teores dos elementos nas cinzas vegetais, aliados

à identificação de fases metálicas precipitadas em diferentes tecidos da planta, podem contribuir de modo significativo para o melhor entendimento dos mecanismos de desintoxicação atuantes em determinadas espécies, fato que proporciona a estas uma capacidade de fitorecuperação de ambientes poluídos. Por outro lado, tais espécies, embora por vezes não concentrem teores significativos de elementos metálicos, comuns em ambientes geológicos propícios à prospecção mineral, têm sua ocorrência condicionada às características de ambientes geoquimicamente anômalos, o que lhes confere um caráter de plantas indicadoras.

Neste processo de melhorar as verdades é que aplicamos minerais de rochas moídas nas plantas e que damos os mesmos para os animais, pois compreendemos com o tempo que as cinzas trazem uma riqueza de minerais presentes nos solos, que estes ficam esgotados com as colheitas e com o tempo em virtude dos processos erosivos.

Esta é uma visão mineralógica, totalmente diferente de uma visão salina, química solúvel que considera o solo como algo desprovido de vida. Não que desta forma esteja contrário ao uso de sais na agricultura, mas apenas que tenhamos coerência pois da mesma forma que consumimos sal de cozinha, cloreto de sódio mais iodo, de uma forma equilibrada, caso contrário teremos hipertensão sódica, assim é com a agricultura que privilegia o Nitrogênio, Fósforo e o Potássio e os outros micronutrientes na forma de sais. Defendemos o uso de nutrientes a base de rochas por serem completos em termos de nutrientes, acima de 120 elementos conhecidos e desconhecidos. Se queremos que nossa funções sejam completas em termos de saúde precisamos que a nossa nutrição seja completa e equilibrada.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

sobre chinampas
explorar esta face das fermenta